Sorologia de toxoplasmose na gestação

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Pergunta: Como interpretar a sorologia de toxoplasmose na gestação? Quando é indicado o tratamento?

Resposta:

	O diagnóstico da toxoplasmose aguda materna baseia-se na sorologia com detecção de anticorpos específicos das classes IgM (agudo) e IgG (crônico), realizada por diferentes técnicas laboratoriais. Nesta avaliação podem haver 4 tipos de cenários de resultados.
	O tratamento é indicado para os cenários 3 e 4, em que o anticorpo IgM é reagente. ¹ ²
	Todos os casos suspeitos, prováveis e confirmados devem ser notificados. ²
	Cenário 1: IgG e IgM não reagentes – Gestante suscetível
	Devem ser orientadas quanto ao risco de adquirir infecção aguda na gestação e orientadas com medidas higienodietéticas para prevenção do contágio. ¹
	Repetir a sorologia, idealmente, todos os meses ou, no máximo, com intervalo de dois meses para detectar precocemente uma soroconversão. ²
	Cenário 2: IgG reagente e IgM não reagente – Infecção pregressa
	O perfil sorológico de sua paciente confere imunidade para Toxoplasmose. Trata-se de infecção pregressa, a qual ocorreu há mais de 6 meses.
	Destaca-se, entretanto, que, se essa sorologia for realizada tardiamente na gestação, não é possível excluir uma infecção aguda ocorrida no início. ¹
	Cenário 3: IgM reagente e IgG não reagente – Infecção aguda
	Iniciar espiramicina 3g ao dia imediatamente e repetir a sorologia em duas a três semanas. Deve ser prescrito na dosagem de 2 comprimidos de 500mg de 8 em 8 horas.
	·      Se a repetição da sorologia mantiver IgG não reagente, trata-se de falso-positivo de IgM; recomenda-se suspender a espiramicina e conduzir a gestante como suscetível (cenário 1).
	·    Se ocorrer a positivação de IgG, trata-se de soroconversão e confirma-se infecção aguda materna.
	Antes de 16 semanas, mantêm-se a espiramicina e encaminha-se para serviço de referência em gestação de alto risco para manejo da toxoplasmose aguda e investigação da infecção fetal. ¹
	Após 16 semanas, iniciar esquema tríplice para Toxoplasmose: ¹
		• Sulfadiazina 3g ao dia (1g de 8/8h)
		• Pirimetamina 50mg ao dia (1 comprimido ao dia)
		• Ácido folínico 10-20mg 3x por semana
	Encaminhar gestante para serviço de pré-natal de alto risco.
	É importante enfatizar que não se pode utilizar o ácido fólico para essa finalidade terapêutica, o qual, sendo absorvido pelo T. gondii, anula o efeito terapêutico da associação sulfadiazina / pirimetamina. ¹
	É uma conduta de boa prática prescrever antiemético associado ao esquema tríplice, pois efeitos colaterais de náuseas e vômitos são comuns no esquema tríplice. ¹
	Cenário 4: IgG e IgM reagentes – Indeterminado, interpretar inicialmente como infecção aguda
	Deve ser interpretada como infecção aguda com início imediato de medicamento. Em geral, para gestações com idade gestacional ≤ 16 semanas, inicia-se espiramicina e deve ser solicitado o teste de avidez (se possível na mesma amostra sanguínea que detectou IgM e IgG)
	·        ALTA AVIDEZ (igual ou superior a 60%) em gestação com idade gestacional abaixo de 16 semanas, descarta-se que a infecção tenha ocorrido na gestação em curso, suspende-se a espiramicina e a gestante é mantida no pré-natal de risco habitual.
	·       INTERMEDIÁRIA OU BAIXA (inferior a 60%), considera-se infecção aguda, mantém-se a espiramicina e encaminha-se a gestante para serviço de referência em gestação de alto risco.
	Para gestações com idade gestacional >16 semanas e IgM e IgG reagentes, o resultado da avidez não modifica a conduta, ou seja, se a avidez for baixa, intermediária ou alta, a gestante será conduzida como infecção aguda.
 
	

REFERÊNCIAS

1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Ações Programáticas. Manual de gestação de alto risco [recurso eletrônico]. Brasília: Ministério da Saúde; 2022. 692 p. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_gestacao_alto_risco.pdf. ISBN 978-65-5993-312-9. 2. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Protocolo de notificação e investigação: toxoplasmose gestacional e congênita. Brasília, DF: MS, 2018. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ protocolo_notificacao_investigacao_toxoplasmose_gestacional_congenita. pdf. Acesso em: 16 ago. 2024

Data:

03/09/2024

Autoria:

Douglas Garcia da Silva