Como monitorar a queda de VDRL após o tratamento de sífilis (gestantes ou não)?

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Como monitorar a queda de VDRL após o tratamento de sífilis (gestantes ou não)?

A sífilis é uma infecção bacteriana curável causada pelo Treponema pallidum. Quando não tratada, pode evoluir para formas graves que acometem, sobretudo, os sistemas nervoso e cardiovascular. Nas gestantes, o tratamento oportuno é decisivo para impedir a transmissão vertical e evitar sífilis congênita—uma condição totalmente prevenível que pode levar a abortamento, prematuridade, natimortalidade ou manifestações congênitas precoces e tardias.

Pontos essenciais
Principais vias de transmissãoSexual: contato com lesões ricas em espiroquetas; maior
transmissibilidade nas fases primária e secundária.
Vertical (materno-fetal): risco elevado se a gestante não for
tratada ou for tratada de modo inadequado.
Estágios clínicosSífilis recente (≤ 1 ano):
– Primária: cancro duro indolor (úlcera única, indolor, com bordas
definidas e endurecidas, rica em treponemas) + linfadenopatia.
Lesão desaparece espontaneamente.
– Secundária: lesões cutâneo-mucosas variadas (roséola, placas
mucosas, sifílides, condilomas planos), alopecia, sintomas gerais.
– Latente recente: assintomática.

Sífilis tardia (> 1 ano):
– Latente tardia: assintomática.
– Terciária: comprometimento neurológico, cardiovascular ou
gomas.

O acompanhamento da resposta terapêutica após o tratamento da sífilis deve ser feito por meio do monitoramento dos títulos dos testes não treponêmicos, como o VDRL. Esse teste tem a vantagem de ser quantificável (exemplos: 1:2, 1:4, 1:8), o que permite acompanhar objetivamente a redução dos títulos após o tratamento, auxiliando na avaliação da eficácia terapêutica e na detecção precoce de reativação ou reinfecção. O monitoramento mensal nas gestantes tem como objetivo principal descartar um aumento significativo na titulação (aumento de duas diluições ou mais), o que indicaria reinfecção ou reativação, necessitando de retratamento.

Em contrapartida, os testes treponêmicos não são recomendados para o acompanhamento após tratamento, pois geralmente permanecem reagentes por toda a vida, independentemente da cura da infecção. 

Para garantir maior precisão na interpretação dos resultados, recomenda-se realizar o monitoramento com o mesmo teste utilizado inicialmente (por exemplo, comparar VDRL com VDRL) e, idealmente, no mesmo laboratório, reduzindo assim variações relacionadas aos métodos laboratoriais.

Os testes não treponêmicos não são automatizados; portanto, pode haver diferença entre leituras em momentos diferentes e/ou quando estas são realizadas por mais de um observador. Por essa razão, variações do título em uma diluição (ex.: de 1:2 para 1:4; ou de 1:16 para 1:8) devem ser analisadas com cautela.

Categoria temporalEstágios incluídosPopulaçãoFrequência do VDRL/RPRQueda mínima esperadaPrazo para atingir a queda
Sífilis recente
(≤ 12 m)
– Primária
– Secundária
– Latente recente
GestantesMensal até o parto
Trimestral até 12 m pós-parto
↓ ≥ 2 diluiçõesAté 6 m
após o tratamento
Demais adultos / PVHIV3, 6, 9 e 12 m
após o tratamento
↓ ≥ 2 diluiçõesAté 6 m
Sífilis tardia
(> 12 m ou
duração
desconhecida)
– Latente tardia
– Terciária
(gomosa,
cardiovascular,
neurossífilis tardia*)
GestantesMensal até o parto
Trimestral até 12 m pós-parto
↓ ≥ 2 diluiçõesAté 12 m
após o tratamento
Demais adultos / PVHIV3, 6, 9 e 12 m
após o tratamento
↓ ≥ 2 diluiçõesAté 12 m

Fonte: Telesaúde Goiás (2025), adaptado de Ministério da Saúde (2022).

A ausência dessa queda esperada dentro do prazo apropriado (seis meses para sífilis recente e 12 meses para sífilis tardia), um aumento na titulação em pelo menos duas diluições, ou a persistência ou recorrência de sinais e sintomas clínicos, podem indicar falha terapêutica ou reinfecção/reativação. A distinção entre falha terapêutica, reinfecção e reativação pode ser desafiadora, sendo fundamental uma avaliação cuidadosa da presença de sinais ou sintomas clínicos novos, do histórico de exposição ao risco, da adesão ao tratamento prévio e dos resultados de exames laboratoriais anteriores para facilitar a elucidação diagnóstica.

Boas práticas de interpretação

  1. Coleta basal: colha o VDRL imediatamente antes da primeira dose de penicilina para ter um título de referência.
  2. Mesma metodologia: acompanhe sempre com o mesmo teste(VDRL ↔ VDRL) e, se possível, no mesmo laboratório; variações de 1 diluição podem refletir erro analítico.
  3. Cicatriz sorológica: até 15 % dos pacientes mantêm títulos baixos e estáveis (≤ 1:4) após queda adequada—não é falha terapêutica.
  4. Testes treponêmicos não servem para seguimento: permanecem reagentes indefinidamente, mesmo após cura.

Garantir o acompanhamento sorológico adequado é tão decisivo quanto administrar a penicilina: ele confirma a cura, alerta para reinfecções e, no contexto gestacional, protege o  recémnascido de um agravo totalmente evitável. O PCDT-IST 2022 estabelece metas simples—queda de pelo menos duas diluições—e calendários objetivos: controles mensais na gestante e trimestrais nos demais adultos até completar um ano. Seguir o mesmo teste, interpretar variações de uma diluição com cautela e agir prontamente diante de qualquer aumento ou falha de queda são atitudes que mantêm o profissional à frente da doença e asseguram desfechos favoráveis para pacientes, bebês e comunidades inteiras.

BIBLIOGRAFIA:

  1. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis – IST. Brasília: Ministério da Saúde, 2022. 211 p. ISBN 978-65- 5993-276-4. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolo_clinico_atecao_integral_ist.pdf.
  2. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Prevenção da Transmissão Vertical do HIV, Sífilis e Hepatites Virais. Brasília: Ministério da Saúde, 2022. 224 p. ISBN 978-65-5993-234-4. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolo_clinico_hiv_sifilis_hepatites.pdf .

DATA:

21/05/2025

Autoria:

Letícia de Paula Palmeira

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Levar assistência e promover educação permanente aos profissionais lotados nas Unidades de Saúde, independentemente de sua localização, fomentando o acolhimento, diagnóstico e conduta terapêutica através de tecnologia de informação e comunicação, de forma ética e eficaz, buscando melhorar a qualidade da assistência local e reduzir o número e qualificar os encaminhamentos para as unidades de referência.