Pergunta: Esporão calcâneo causa dor no calcanhar? Como é o diagnóstico e tratamento da fascite plantar?
O esporão calcâneo pode estar presente em casos de dor no calcanhar, mas raramente é a causa direta da dor [1,2,3]. A literatura sugere que a dor no calcanhar está mais frequentemente relacionada ao estresse biomecânico da fáscia plantar e sua inserção no tubérculo calcâneo do que à presença do esporão em si [1,2]. É possível o achado de esporão calcâneo inclusive na população assintomática [2,3], principalmente nos idosos. O termo esporão refere-se ao crescimento ósseo na região calcânea e frequentemente está associado à presença de fascite plantar [3].
A fascite plantar é o principal diagnóstico clínico para a dor localizada na região plantar do calcanhar [4]. É mais frequente em pessoas entre 40 e 60 anos [5]. Entre os principais fatores de risco destaca-se a obesidade e a prática de corridas ou longas caminhadas. Os pacientes com fascite plantar geralmente descrevem o início gradual da dor no calcanhar, que piora nos primeiros passos pela manhã ou após um período de inatividade [1,2,3,5]. A dor piora no final do dia após longos períodos em pé ou ao caminhar descalço ou em superfícies duras. A dor geralmente diminui com o repouso [1].
No exame físico do paciente, sugere-se o diagnóstico de fascite plantar se há dor localizada na palpação da inserção da fáscia plantar no calcâneo anteromedial (foto). Um teste chamado “molinete” (do inglês Windlass Test) pode ser útil no diagnóstico [2]. O examinador flexiona os dedos do pé para cima, alongando a fáscia plantar. Se isso reproduzir a dor do paciente, é um indicativo de fascite plantar [5] (confira a demonstração do teste neste vídeo: <https://www.youtube.com/watch?v=UThVkY61GwA>).
Geralmente, um exame de imagem não é necessário para o diagnóstico, mas pode ser considerado em caso de suspeita de diagnóstico alternativo ou falta de resposta ao tratamento. O ultrassom do pé é eficaz para detectar achados de fascite plantar [2]. O diagnóstico diferencial inclui neuropatia (suspeitar em paciente com queimação ou parestesia na planta do pé ou no calcanhar), fratura ( suspeitar em paciente com história de trauma ou impacto repetitivo), entesopatia (suspeitar em paciente com dor posterior no tornozelo como na tendinite de Aquiles; ou com dor medial no tornozelo como na tendinite tibial posterior) e síndrome da almofada de gordura do calcanhar (suspeitar em paciente com dor centralizada no calcanhar) [1,2,4]. Existe ainda uma possível associação entre dor no calcanhar e pontos-gatilho nos músculos da perna (principalmente gastrocnêmio medial) e do pé [6].
O tratamento para fascite plantar baseia-se em:
- Recomendar manter repouso e evitar atividades que pioram a dor (como atividades de impacto e longos períodos em pé) [1,2,5].
- Buscar reduzir a pressão no calcanhar. Os calçados utilizados devem fornecer amortecimento ou suporte para o arco plantar. É possível inserir no calçado atual do paciente uma palmilha de silicone de calcanhar (chamada de calcanheira) [1].
- Abordar sobre perda de peso nos pacientes com sobrepeso ou obesidade [5].
- Aconselhar sobre a realização de exercícios de alongamento [1,2,5]. Confira opções de exercícios recomendados para fascite plantar neste vídeo do Telessaúde Goiás <https://youtu.be/ZhMedaNliLg?si=fH31rYG6QG8zeG29>. É possível encaminhar para fisioterapia, a depender da disponibilidade e da preferência do paciente.
- Orientar sobre a analgesia com gelo (aplicar por 15 a 20 minutos em caso de dor).
- No momento de agudização da dor, considerar uso de antiinflamatórios não esteroidais (AINEs) por período de duas a três semanas naqueles pacientes sem contraindicações [1]. Opções incluem naproxeno 500mg 12/12h ou nimesulida 100mg 12/12h.
- Para pacientes que apresentam dores mais intensas e persistentes, considerar uma infiltração local de corticóide [6], caso o profissional esteja capacitado para o procedimento. A infiltração na fascite plantar pode ser dolorosa e apresentar complicações, por isso deve ser reservada para os casos em que as medidas iniciais não apresentaram alívio sintomático [1,2,7].
Os tratamentos disponíveis para fascite plantar não modificam a evolução natural da doença, mas podem oferecer alívio sintomático [1]. A grande maioria dos pacientes com fascite plantar, independente do tratamento, irá se recuperar totalmente com o tempo (aproximadamente 50% melhora em três meses e 80% melhora em 1 ano) [1]. A fim de alinhar as expectativas do paciente sobre o tratamento, é importante esclarecer que a doença geralmente dura vários meses e que o tratamento busca aliviar os sintomas até a completa recuperação.
O encaminhamento para ortopedia (especialidade de pé e tornozelo) é indicado em caso de dor refratária ao tratamento conservador por 12 meses [8].
BIBLIOGRAFIA