Cólica do lactente (choro persistente do lactente)

Home Paginas Visualizar

Pergunta: Como abordar a cólica do lactente (choro persistente do lactente)?

Resposta:

A cólica do lactente trata-se de distúrbio funcional benigno e autolimitado, caracterizado por episódios recorrentes de choro, agitação ou irritabilidade sem causa óbvia em recém nascidos e lactentes saudáveis. Normalmente, ocorre a partir da 2ª  semana de vida, atinge o pico entre 6 e 8 semanas e desaparece entre 3 e 6 meses de idade (1).
Durante os episódios, o bebê geralmente fica muito difícil de consolar, o que pode levar a um estresse significativo nos cuidadores, o que pode levar tanto os familiares quanto os profissionais de saúde a adotar medidas excessivas, e sem comprovação científica, para alívio desta condição (1,2). 
Importante realizar história clínica e exame físico cuidadoso para excluir causas subjacentes significativas (1):
    • Febre, deficiência no crescimento e ganho de peso, além de doenças clínicas que justifiquem os sintomas, impedem que seja estabelecido o diagnóstico de cólica do lactente.
    • Diagnósticos diferenciais importantes:
        ◦ Oferta de alimentação inadequada (uso de preparações não recomendadas para a faixa etária)
        ◦ Alergia à proteína do leite de vaca
        ◦ Constipação 
        ◦ Doença do refluxo gastroesofágico 
        ◦ Doenças infecciosas
        ◦ Outras:
            ▪ Intussuscepção, patologias cirúrgicas, trauma acidental e não acidental, torção testicular, síndrome do torniquete capilar, síndromes de abstinência (situações de mães toxicodependentes), etc
        ◦ Benigno:
            ▪ Disquezia infantil (esforço excessivo durante as evacuações em bebês saudáveis < 6 meses de idade) 
Manejo (1,2):
Medidas Não Farmacológicas:
    • Tranquilizar os cuidadores:
        ◦ Não existem medicações que consigam cessar completamente os sintomas, sendo o mais importante acolher e esclarecer as dúvidas da família e tranquilizá-los de que se trata de uma condição benigna, ou seja, não é doença, que se inicia geralmente na 3ª semana e pode se prolongar até o final dos 4 meses de vida.
    • Auxiliar na compreensão do choro:
        ◦ Lembrar os cuidadores que, nesta fase da vida, o choro é uma forma do bebê comunicar seus incômodos e que este choro pode traduzir uma série de desconfortos como dor, fome, calor, frio, tédio, desejo de ser acalentado, entre outros. A observação da criança e o comparecimento às consultas regulares irão auxiliar no entendimento da razão dos episódios de choro intenso.
        ◦ Se a criança está crescendo e ganhando peso de forma adequada, não tem alterações ao exame físico e não apresenta outros sintomas como febre, vômitos, constipação, diarréia, alterações no sono ou ainda outros sintomas, trata-se de uma criança saudável e deve ser conduzida como tal.
    • Reconhecer a exaustão:
        ◦ Encorajar os pais a alternarem cuidados com o bebê que chora e, se necessário, a terem um plano de resgate com familiares ou amigos que possam auxiliá-los em caso de exaustão.
    • Alimentação materna:
        ◦ Esclarecer que não existe indicação de dietas restritivas para a mãe. 
        ◦ A mãe deve manter uma alimentação saudável, com todos os grupos alimentares e quando possível evitando excesso de alimentos ultraprocessados de uma forma geral. 
    • Massagem no abdome (barriga) e aplicação de compressas mornas:
        ◦ Não existem estudos que consigam comprovar o tamanho de sua eficácia, porém não parecem causar danos.
        ◦ Movimentos leves/suaves e circulares na barriga da criança
        ◦ Não aplicar compressas diretamente em contato com a pele dos bebês pelo risco de queimaduras
    • Outros procedimentos que podem ser adotados:
    • Enrolar o bebê em uma manta ou cobertor;
    • Flexionar as coxas do bebê sobre a barriga;
    • Banho morno;
    • Reduzir estímulos para o bebê (evitar locais com muito barulho ou excesso de pessoas);
    • Procurar um ambiente tranquilo, podendo ser usada música ambiente suave;
    • Estabelecer uma rotina para banho, sono, passeio e outras atividades;
    • Não utilizar chás, trocar marcas de fórmula leite ou usar medicamentos sem a orientação do profissional de saúde;
    • Nunca interromper a amamentação exclusiva. Sempre pedir orientação profissional;
Medidas farmacológicas (remédios):
    • Se houver indícios de dor o paracetamol gotas pode ser tentado no alívio sintomático, porém não há indicação do seu uso de forma rotineira 
    • A mesma indicação é válida para a simeticona que pode ajudar na eliminação dos gases, mas apesar de amplamente utilizada não há evidências científicas que suporte seu uso especificamente para o manejo das cólicas.
    • Alguns estudos apontam que o uso de Lactobacillus reuteri na dose de 5 gotas, uma vez por dia, em lactentes sob aleitamento materno exclusivo pode reduzir o tempo de choro do bebê. No entanto, o seu uso deve ser pensado de forma individualizada, tendo em vista o alto custo da medicação.
O apoio e seguimento dessas famílias visa evitar complicações como (1):
    • Interrupção precoce da amamentação
    • Aumento do estresse familiar e privação de sono
    • Aumento do risco de abuso físico (traumatismo craniano encefálico, síndrome do bebê sacudido)
    • Uso indiscriminado de medicações e outras medidas potencialmente prejudiciais a saúde da criança 
    • Atraso no diagnóstico de patologias com sintomas semelhantes
Referências Bibliográficas:
    1. DynaMed. Cólica infantil. EBSCO Information Services. Acessado em 5 de agosto de 2024. Disponível em: https://www.dynamed.com/condition/infantile-colic
    2. Gusso GDF, Lopes JMC, editores. Tratado de medicina de família e comunidade: princípios, formação e prática. 2. ed. Porto Alegre: Artmed; 2019.

Data:

03/09/2024

Autoria:

Débora Ribeiro de Almeida