Pergunta: Como fazer o manejo da bronquiolite viral aguda na Atenção Primária?
Resposta:
A Bronquiolite Viral Aguda (BVA) é uma infecção respiratória viral, caracterizada por pródromo respiratório superior (tosse, coriza, espirros, etc) progredindo com aumento do esforço respiratório e sibilância (chiado no peito) em crianças < 2 anos de idade, podendo ser mais grave quando acomete crianças menores de 6 meses de vida. A etiologia por vírus sincicial respiratório [VSR] é estimada entre 50 a 80% dos casos, entre outras causas estão rinovírus, parainfluenza, adenovírus, influenza, metapneumovírus e coronavírus (1).
O cuidado de suporte é fundamental no tratamento, sobretudo por não haver terapêutica específica disponível que abrevie o curso e/ou promova a resolução dos sintomas. O objetivo será garantir oxigenação e hidratação adequadas, portanto o primeiro passo é definir o ambiente de tratamento conforme condições clínicas (1,2,3).
Aqueles que têm mantida a capacidade de ingestão por via oral, com saturação superior a 90%, sem fatores de risco para gravidade, com a garantia de reavaliação por profissional de nível superior (médicos e/ou enfermeiros) em 48 horas e com cuidadores que se sentem capacitados para o cuidado domiciliar são candidatos ao tratamento ambulatorial (1,2).
Fatores de risco para doença grave |
Idade < 12 semanas (3 meses) |
História de prematuridade (< 35 semanas de gestação) |
Doença cardíaca congênita hemodinamicamente significativa (especialmente com hipertensão pulmonar) |
Imunodeficiência |
Exposição ao tabagismo passivo |
Anomalias congênitas |
Doença neuromuscular grave |
Doença pulmonar crônica |
Adaptado do Dynamed. |
Diagnóstico e Avaliação Complementar (2):
É recomendação forte da Academia Americana de Pediatria, que os médicos devem diagnosticar a bronquiolite e avaliar a gravidade da doença com base na história e no exame físico e não devem solicitar exames laboratoriais e radiológicos rotineiramente para diagnóstico.
Atenção: crianças pequenas podem ter sua avaliação modificada em vigência de obstrução das vias aéreas superiores, portanto considere lavagem e/ou aspiração nasal antes da avaliação inicial.
Tratamento Domiciliar – orientações para os cuidadores e profissionais (1,2,3) • Fazer higiene das mãos com água e sabão e ou álcool a 70% • Evitar tabagismo passivo • Dieta: ◦ Forneça alimentação oral habitual da criança, incluindo amamentação, conforme tolerado • Lavagem nasal: ◦ Oferecer lavagem de narinas com cloreto de sódio 0,9% e aspiração nasal superficial se a secreção nasal for abundante ◦ Não é recomendada sucção nasal profunda pois pode evoluir com lesão da mucosa • Uso de antitérmicos se for necessário ◦ Paracetamol ▪ 10 - 15 mg/kg/dose ▪ Intervalo: Até de 6 em 6h ◦ Dipirona (a partir de 3 meses) ▪ 15 - 25 mg/kg/dose ▪ Intervalo: Até de 6 em 6h ◦ Ibuprofeno (a partir de 6 meses) ▪ 5 a 10 mg/kg/dose ▪ Intervalo: Até de 8 em 8h • Orientar os cuidadores sobre os sinais e sintomas de “alerta” ◦ Apresentar vômitos e não conseguir tomar líquidos. ◦ Respiração muito rápida ◦ Esforço para respirar: você pode ver a pele do seu filho entre as costelas a cada respiração, por exemplo ◦ Se os lábios ou as pontas dos dedos do seu filho parecerem azulados. ◦ Apnéia (ou pausa na respiração). ◦ Reavaliação médica se houver dúvidas ou se sinais de alerta presentes
Quando internar? (1) Critérios de admissão hospitalar (O fluxograma abaixo pode trazer informações que auxiliam nesta decisão): • Incapacidade de receber medicações ou de se alimentar por via oral • Desidratação com critérios para reposição intravenosa de fluidos • Risco iminente de deterioração clínica ou respiratória • Necessidade de oxigenioterapia suplementar (saturação que persiste menor que 90% em ar ambiente) ◦ Para os profissionais: A meta de SpO 2 ≥ 90% é tão eficaz quanto a meta de SpO 2 ≥ 94% para resolução da tosse e diminui o tempo de alta em lactentes com bronquiolite • Taquicardia ou bradicardia persistente Fluxograma adaptado de Dynamed para indicação de ambiente de tratamento adequado (imagem) Intervenções não aconselhadas de rotina (1,2,3): • Broncodilatadores: ◦ Não são recomendados de rotina na BVA ◦ Podem melhorar escores clínicos, mas não há evidência de redução de tempo de hospitalização ou mesmo tempo de resolução da doença ◦ Considerar teste terapêutico com broncodilatador naqueles que apresentarem diagnóstico diferencial com asma aguda • Solução salina hipertônica: ◦ Pode aumentar a depuração mucociliar e reidratar o líquido da superfície das vias aéreas, no entanto, as evidências são limitadas quanto ao impacto nos resultados dos pacientes ◦ Seu uso pode induzir sibilância • Corticosteróides: ◦ Não são recomendados por sociedades médicas, além de não haver estudos clínicos com evidência científica que suporte seu uso seja sistêmico ou inalatórios • Epinefrina inalada: ◦ Não está recomendado seu uso rotineiro ◦ Na avaliação inicial, uma dose pode ser utilizada na suspeita de laringite aguda • Antimicrobianos: ◦ Medicamentos antibacterianos não devem ser usados em bebês e crianças com bronquiolite, a menos que haja infecção bacteriana concomitante ou forte suspeita de uma ◦ Se presente, a infecção bacteriana deve ser tratada da mesma maneira que na ausência de bronquiolite • Descongestionantes e antitussígenos ◦ A prescrição de soluções orais descongestionantes, anti-histamínicos e mucolíticos, como acetilcisteína, não tem eficácia confirmada nos casos de BVA. Há risco de efeitos adversos especialmente em menores de 6 meses e não são apoiadas pelas evidências científicas • Fisioterapia respiratória: ◦ Não deve ser indicada rotineiramente para o manejo da bronquiolite ◦ As evidências de eficácia da fisioterapia respiratória são conflitantes e, portanto, a terapia deve ser considerada para crianças com comorbidades relevantes ou ainda para aquelas com dificuldade em eliminar secreções abundantes
Referências Bibliográficas:
1. DynaMed. Bronquiolite em Crianças. EBSCO Serviços de Informação. Acessado em 4 de dezembro de 2022. Disponível em: https://www.dynamed.com/condition/bronchiolite-in-children 2. Marques BA, Mezêncio CGS. Protocolo Colaborativo: Bronquiolite Viral Aguda. Belo Horizonte: Prefeitura de Belo Horizonte, Comissão dos Protocolos Colaborativos do SUS-BH; 2020. 3. Olio CCD, Anna MFPS, Anna CCS. Tratamento da bronquiolite viral aguda. Resid Pediatr. 2021;11(3):1-5. DOI: 10.25060/residpediatr-2021.v11n3-186.
Data:
03/09/2024Autoria:
Débora Ribeiro de Almeida